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Matintresh apresenta uma contínua mobilidade e fluidez entre espaços, evidenciando a ausência de limites e demarcações.  Além do mais, expõe a velocidade com que ocorrem as transformações no mundo moderno, eliminando as velhas barreiras, quebrando qualquer unidade seja ela de caráter cultural ou espacial e misturando realidades. 

 

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Do universo das letras à Amazônia universalizada: uma leitura de Matintresh, de Salomão Laredo

por da Silva Sousa y Luciene de Andrade

 

Texto:
Resumo: O presente artigo propõe uma leitura do livro Matintresh, do escritor paraense Salomão Laredo. Trata-se de um livro ousado tanto na temática quanto na estruturação de seu enredo que mescla elementos da cultura amazônica e da mitologia, assim como elementos outros do mundo contemporâneo, conhecidos no universo da mídia. Portanto, é um texto eclético(1) que retrata, entre outros aspectos, de uma Amazônia múltipla, plural, heterogênea diferente daquela retratada pela literatura corrente praticada na região. Dessa forma, abordaremos o livro a partir, principalmente, de idéias estabelecidas por Peter Burk, Stuart Hall, Eduard Said e Homi K. Bhabha, dando atenção especial à noção de hibridismo, Amazônia sem fronteiras e universalizada, a fim de problematizar preceitos tradicionais de compreensão da literatura na região, conhecida como literatura do norte, ou literatura amazônica.

1. Introdução

Não existe uma data nem um sujeito preciso para o início do processo hoje conhecido pelo termo hibridismo, o que se sabe é que desde o século XVI essa condição humana vem se intensificando e, conseqüentemente, esse processo está cada vez mais sendo difundido em nosso tempo.

Discorrendo sobre esse assunto, trataremos de expor através de uma leitura de Matintresh, do escritor paraense Salomão Laredo, tanto o termo hibridismo aqui (analisado do ponto de vista cultural), quanto tratar de um espaço e de um tempo sem fronteiras e universais. Todas essas discussões recairão sobre um lugar específico: a Amazônia, retratada através de um olhar ficcional.

A razão para tais discussões é mostrar a visão da obra sobre essa região, se é um olhar engessado e canônico(2) ou se busca ver a Amazônia sobre outro ângulo, sobre um novo ponto de vista. Para tanto, teremos como base os teóricos Peter Burk, Stuart Hall, Eduard Said e Homi K. Bhabha. Chegaremos ao nosso objetivo através de leituras e análises de Matintresh, e também através da reflexão e discussão dos teóricos já mencionados acima.

2. Hibridismo e identidades múltiplas na Amazônia representada em Matintresh

Matin,palavra quebrada que vem da lenda popular amazônica da matinta-perera(3), e tresh, escrito de acordo com a fonética da palavra inglesa trash(4). Com a junção desses dois vocábulos de idiomas diferentes surgiu como resultado híbrido(5) a palavra matintresh, queaqui está sendo interpretada como um ser (matinta) tolo ou que vive a toa (tresh).

Matintresh, texto de linguagem peculiar e difusa, sem linearidade, repleto de (re) cortes que mostram uma Amazônia distinta daquela retratada pela literatura corrente, praticada na região. Essa mesma Amazônia é vista por aspectos múltiplos, plurais e heterogêneos que correspondem a uma região híbrida. Hibrida porque é retratada nos seus vários encontros culturais que ocorreram na região sem esquecer traços culturais anteriores, mesmo que estes não sejam percebidos facilmente.

Em Matintresh, ao retratar as expedições que demarcaram a Amazônia, não mostra somente a divisão territorial. O texto exibe também a violência do branco sobre os nativos. Relata estupros de índias que grávidas de homens brancos geravam crianças híbridas, que mais tarde, quando adultas, numa espécie de retaliação e vingança violavam as mulheres dos brancos, que se viessem a gerar filhos, estes seriam resultado de um processo híbrido, ainda mais complexo.

Na maioria da literatura classificada como do Norte ou amazônica o olhar é direcionado a falar de um povo, de uma cultura pura local, sem influências ou marcas de outras. Idéia totalmente contrária ao que defende Peter Burk ao escrever que “O preço da hibridização, (...) inclui a perda de tradições regionais e de raízes locais”(6). Para Burk não existe um povo ou uma cultura pura, pois uma vez que culturas entram em contato umas com as outras ocorre uma absorção, uma hibridização entre elas, processo este que, segundo o teórico, é inevitável. Nesse sentido, Edward Said diz que: “(...) a historia de todas as culturas é a historia do empréstimo cultural”(7). Em Matintresh essa idéia fica muito clara, pois uma personagem como Jocasta, mãe e esposa de Édipo Rei, da mitologia grega “usava e adorava cumbias bolivianas, (...) e bregas paraenses”(8). Além disso, “incorporava o papel de matinta-perera no aeroporto de Marabá”(9). Como se nota o que está acontecendo com essa personagem é uma espécie de incorporação, de utilização de traços característicos de determinada região, no caso a Amazônia, por uma pessoa que não é local, que pertence à outra cultura, a outro contexto histórico-social, mas que usa elementos da cultura amazônica para construir seu próprio mundo.

Não diferente de Jocasta, Édipo também passa por esse processo. Em Matintresh o príncipe de Tebas faz pós-doutorado e está quase enlouquecendo devido à apresentação de um “tratado sobre cosmogonia(10)”. No universo e no tempo de Matintresh o narrador coloca em um mesmo patamar o mito de Édipo Rei(11) e a lenda da matinta-perera, tornando um mito universal e uma lenda local iguais em importância, como fica claro: “utilizando o mito da matinta-perera com o do Édipo (...) fiz um misto proposital (...)”(12). Tal argumento mostra a liberdade de expressão e temática que Matintresh representa. No prefácio do livro se afirma: “este texto (...) é contra a opressão religiosa, política, social e outras de qualquer tipo, ordem ou marca”, o que demonstra o descompromisso do texto em relação a uma estabelecida hierarquia literária, ocasionando a expressão livre e irresponsável (no bom sentido), ao mesmo tempo em que apresenta uma insubordinação em relação à tradição. Neste caso, deve-se falar de diálogo aberto com a tradição literária que vai implicar na expansão e enriquecimento da literatura. Trata-se de afirmar que Matintresh se coloca ao lado do que há de mais característico na literatura brasileira (a antropofagia(13)) e, ao mesmo tempo, reforça um traço político da literatura latino-americana: a insubmissão.

Fica óbvio que Matintresh é contra censura, busca a liberdade nas suas mais diferentes formas, seja ela lingüística ou estilística, característica marcante na modernidade. Stuart Hall, nesse sentido, escreve que “as transformações associadas à modernidade libertaram o individuo de seus apoios estáveis nas tradições e nas estruturas”(14), ou seja, que as identidades nacionais puras, unificadas, coerentes não existem. Então, se não existem identidades intocadas, logicamente, entende-se que o que existe são múltiplas identidades no interior de uma nação. Uma verdadeira multiplicidade cultural entre povos das mais diferentes origens.

Assim, a idéia de unidade, de fronteiras nítidas só existe em discursos de força ideológica ou em narrativas nacionalistas. Na verdade o discurso da coesão, do limite bem definido é um sistema de representação cultural entendido por Stuart Hall por “comunidade simbólica”. A imagem de nação fixa tem uma íntima relação com a globalização, processo que expande horizontes e intensifica o movimento entre fronteiras. Com ela as distâncias se encurtam, o tempo se altera, as regiões, os continentes, os povos se aproximam. Em Matintresh, por exemplo, essa idéia que: “(...) as identidades nacionais não são coisas com as quais nós nascemos, mas são formadas e transformadas no interior da representação”(15) está ilustrada na seguinte passagem e em outras do texto.

Índias Tupinambás olhavam os homens enfeitados carregarem no Piri umas enormes malonas.
                        
                          (...)

Uns conseguiram viver com as índias, feito índios com sotaque lusitano e os netos montaram armazém de secos e molhados na rua quinze de novembro, outros deram aulas de como vencer na vida enganando e roubando e assim começou em Belém a malandragem, formando os primeiros delinqüentes. (Laredo, 2003, p.221)

Esse pensamento é muito forte no universo de Matintresh. Lá a matinta-perera transcende tanto limites temporais, quanto geográficos, formando um complexo misto de realidade com fantasia. Com o mito de Édipo Rei as realidades locais da Amazônia mostram uma região aberta para o mundo e com identidades deslocadas. Isso ocorre na obra quando é narrada, por exemplo, a rotina da personagem Jocasta, que tinha “vida tripla”, era mãe de uma filharada, “filha de Santo” e pela noite, ainda, andava transformando-se em matinta-perera. Esse é um dos episódios do texto onde as fronteiras da Amazônia são literalmente demolidas e o tempo e o espaço são ignorados. Aqui, o passado e presente se encontram, os lugares se fundem eliminando barreiras e criando imagens inéditas, complexas e, até então, inconcebíveis.

Nessa passagem da obra onde ficam as fronteiras, as identidades, os impedimentos temporais e geográficos simplesmente inexistem. No mundo paralelo dessa obra literária o tempo cessa, o espaço parece unificar-se e os limites desaparecem. Idéia essa bastante defendida por Homi K. Bhabha representada no seguinte trecho.                                                                                                                  

(...) encontramo-nos em momento de transito em que espaço e tempo se cruzam para produzir figuras complexas de diferença e identidade, passado e presente, (...), para lá e para cá, para frente e para trás. (Bhabha, 1998, p.19).

 Seguindo essa linha de pensamento, Matintresh apresenta uma contínua mobilidade e fluidez entre espaços, evidenciando a ausência de limites e demarcações. Além do mais, expõe a velocidade com que ocorrem as transformações no mundo moderno, eliminando as velhas barreiras, quebrando qualquer unidade seja ela de caráter cultural ou espacial e misturando realidades, espaços, tempos e pessoas, que externas a esse universo de plurais jamais se encontrariam. Comprovando isso, em uma passagem da obra, Sócrates tanto vê Jocasta “aterrizando” em seu quintal, quanto é colocado como organizador da cabanagem:

Muita vez Sócrates viu Jocasta aterrizar no fundo do seu quintal (...) toda ‘tresh’

(...)

Essa situação, para Sócrates, era ridícula. Não admitia essa crendice. (...). Quando desceu de Boeing em Belém, o espanto foi geral e total. Era dia do Círio de Nazaré.

(...)

Verdadeiramente contando foi Sócrates o mentor intelectual da cabanagem que mandou para cá seu Platão que dialogou durante muito tempo com as forças revolucionarias, (...). (Laredo, 2003, p.31-32)

A Amazônia aqui é uma região apresentada como um local de identidade mutável e desprendida, contendo aspectos regionais e globais. Regionais porque são marcadas por tradições culturais de um povo local, e globais porque essas diversas peculiaridades de determinadas regiões estão se tornando cada vez mais conhecidas pelo universo global. Estes discursos aparecem bem marcados nas ideias de Stuart Hall que discute “o local como cada vez mais inserido na ‘aldeia global’”, ou seja, que comunidades mesmo estando nos lugares mais remotos da terra, não estão imunes ao processo de globalização. As influências de uma cultura sobre a outra em Matintresh é percebida, por exemplo, no entrelaçamento do mito de Édipo com a lenda da matinta-perera. E, como resultado desse entrelaçar é criado um cenário perfeito para o florescer desse discurso: Jocasta “mãe devotadíssima, trabalha dando “passes a noite”, e ainda, é casada com Édipo que faz “pós-doutorado”. Com toda essa articulação, onde fronteiras já não são nítidas,a cultura local (lenda da matinta-perera) encontra-se inserida ao universal (mito de Édipo), fazendo uma junção de características regionais e universais, que evidenciam a posição da obra em relação à realidade da região. Em Matintresh o espaço amazônico não é visto como um lugar isolado ou a margem do mundo, pelo contrario é um espaço alcançado pelo processo globalizador, ainda que atuante de forma desigual. A globalização integra e estabelece relações entre culturas e povos de inúmeras e variadas identidades, descobrindo um caráter universal. Assim, explica Stuart Hall: 

Quanto mais à vida social se torna mediada pelo mercado global de estilos, lugares e imagens, (...) mais as identidades se tornam desvinculadas - desalojada – de tempos, lugares, historias e tradições especificas e parecem  flutuar livremente, (Hall, 2001, p.75)

Outra passagem, dentro de Matintresh, que reforça a idéia ocorre com a narração sobre cotidiano de Jocasta, que é constituído por iogas e passeios de carro enquanto ouve música.

(...) Jocasta se pegava iogando (...), outras, preferia passar pela beira do rio do campus universitário do Guamá guiando seu carro importado, (...) ouvindo Brahms. (Laredo, 2003, p. 226)

verso das letras de Matintresh, não há lugar para a palavra pureza ou unificação. Dentro dessa obra tudo esta misturado, entrelaçado produzindo um movimento continuo de interação entre elementos distintos, mas que se completam. Isso ocorre com o tempo, com espaço, com os personagens, com enredo e com o próprio texto. Matintresh contem (re)cortes planejados para tornar a obra sem uma seqüência lógica, de acordo com o pensamento civilizado, ocidental e (pós)moderno desse início de século.
            
Matintresh é tão inovador que é colocado pelo narrador, simplesmente, “como uma situação”, não é um romance nem um conto, nem uma novela ou qualquer outra categoria tradicional de gênero, na verdade é apenas um texto pensado, como diz o narrador, para que “incomodasse, (...) trouxesse a desconstrução (...)”. Mas o texto Larediano é tão livre de amarras, tão solto que logo em seguida lê-se: “Esqueça tudo isso. Não é preciso dar explicação de nada. Desborde. Desmanche.”(16)
            
Matintresh transcende obstáculos, usa expressões particulares de uma região ao lado de expressões estrangeiras, compondo uma linguagem nova que, colocada assim, não representa somente um linguajar de uma Amazônia tradicional: de rios, de índios, de florestas exuberantes e de animais exóticos; mas também revela uma região, completamente inserida num contexto mundial de globalização, de informação, de consumismo e de tecnologia seja inserção um ganho ou ume perda. 

3. Conclusão
            
Tendo em vista os aspectos acima apontados, podemos provisoriamente concluir que Matintresh apresenta uma Amazônia múltipla em suas mais diversas identidades e que, vai muito além de uma representação local, então, não existem identidades puras ou coerentes, mas sim identidades híbridas, resultantes dos diversos encontros, entre os mais variados aspectos, evidenciando povos e culturas que se encontram nos entre - lugares das aberturas fronteiriças. Aberturas estas que, até então, delimitavam um espaço ou um lugar onde algo começava ou terminava.
 
Com fronteiras cada vez mais flexíveis, Matintresh liberta aAmazôniade limites, de amarras, de velhos rótulos e tornando-a cada dia mais global, aberta a novas culturas, novos discursos e ao surgimento de identidades originais, deixando o local inserir-se no universal e vice-versa. Tal processo foi, ainda mais, intensificado pela globalização que tende a tornar as coisas e os lugares transitados e conhecidos pelos mais diferentes povos e culturas, tornando o local cada vez mais inserido no global. Em Matintresh essas ausências de limites definidos são representadas através de histórias e de personagens ou realidades que em tempos e espaços distintos se cruzam e convivem simultaneamente. Personagens e narrativas da mitologia grega, de tempos remotos, se encontram de forma natural e normalmente com pessoas e costumes do nosso tempo.
           
Por isso, uma das principais dificuldades e impactos desse estudo foi justamente compreender e deixar velhos preconceitos para trás, diante de um texto tão complexo, quanto inovador. Mas, certamente, após deixarmos de lado conceitos formados e ranços ultrapassados, temos o prazer de adentrar o universo impressionante dessa obra, pois o texto indica um ângulo diferente sobre a região amazônica.

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1 Eclético. Que gosta de coisas e pessoas de natureza bastante diversa. Que é composto de diferentes elementos, de tendências divergentes. (Priberam)

2 Canônico. Aquele ou aquilo que segue regras, padrões etc. (Priberam)

3 Matinta-perera. Pode ser um pássaro. Mas aqui será entendida como a Velha da lenda amazônica que se veste de preto, tem os cabelos bagunçados, hábitos noturnos e assobia causando espanto e medo a quem ouve.

4 Trash. Coisa sem valor, refugo, galhos cortados. Bobagem, bagatela, conversa tola. Entulho, escória, rebotalho, pessoa tola ou à toa. Cortar folhas e galhos, descartar, rejeitar, destruir, destroçar, vandalizar.

5 Híbrido. Hibridez, qualidade do que provem de naturezas diferentes. (Priberam)

6 Burk, 2003 p.7.

7 Said, 1996, Apud. Burk, p 44.

8 Laredo, 2003, p.34.

9 Salomão, 2003, p.63.

10 Cosmogonia. Teoria da formação do universo. Ciência que trata da formação dos objetos celestes (planetas, estrelas, sistemas de estrelas etc.).

11 Mito de Édipo Rei. Conta a história do jovem Édipo que teve o destino decidido pelo Oráculo. No mito Édipo mata o pai e casa-se com a mãe.

12 Laredo, 2003, p.8

13 Antropofagia. Termo utilizado por Oswald de Andrade no modernismo brasileiro para caracterizar a literatura brasileira que se alimentava de elementos externos a fim de criar outra literatura com traços próprios.

14 Hall, 1992, p.25.

15 Hall, 2001, p.48.

16 Laredo, 2003, p.8.

 

BIBLIOGRAFÍA

Bhabha, Homi K. O Local da Cultura. col. Humanitas. Belo Horizonte: UFMG, 1998.

Burk, Peter. Hibridismo Cultural. col. Aldus 18. Rio Grande do Sul: Unisinos, 2003.

Filho, Domício Proença. Pós-Modernismo e Literatura. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1995.

Hall, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-modernidade. 5ª ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

Said, Eduard. Apud. BURK, Peter. Hibridismo Cultural. Cole. Aldus 18. Rio Grande do Sul: Unisinos, 2003.
http://michaelis.uol.com.br/moderno/ingles/index.php

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http://www.cdpara.pa.gov.br/matinta.php

Acesso em 06/07/10 às 10: 23 min. h
http://pt.fantasia.wikia.com/wiki/Matinta-pereira

Acesso em 06/07/10 às 10:29 min. h
http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx

Acesso em 07/07/2010 às 15h43min. h
http://www.dicionariodoaurelio.com/dicionario

Acesso em 07/07/2010 às 16h00min. h
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Acesso em 24/08/2010 às 11h39min. h

 

© Samuel Rodríguez García, 2010

 
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